Uso de diurético no tratamento da hipertensão e a associação com câncer de pele
A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) através desta nota oficial esclarece os relatos de estudos publicados sobre associação de câncer de pele não-melanoma com o medicamento anti-hipertensivo diurético hidroclorotiazida, fruto de alerta feito na última semana pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (http://bit.ly/AnvisaHA).
A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica e séria, caracterizada pelos nÃveis elevados da pressão sanguÃnea nas artérias. A HA é caracterizada, de acordo com a 7ª. Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, pela elevação sustentada dos nÃveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg.
A HA no Brasil atinge 32,5% (36 milhões) de indivÃduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular.
O tratamento da HA é eficaz e essencial para redução das complicações cardiovasculares associadas, como acidente cerebrovascular, infarto do miocárdio, insuficiência renal, insuficiência cardÃaca e doença vascular periférica.
Os diuréticos tiazÃdicos, entre eles a hidroclorotiazida, são utilizados há décadas no tratamento da HA com eficácia reconhecida. Seja isoladamente ou, mais frequentemente, em associação com outros anti-hipertensivos, os diuréticos formam parte central do tratamento da HA em uma vasta gama de pacientes. Normalmente são empregados em doses baixas, o que leva à redução dos seus efeitos colaterais mais comuns.
O primeiro grande estudo a chamar atenção para a associação da hidroclorotiazida com câncer de pele foi o de Pottergard e cols que, a partir do Registro de Câncer (2004-2012) na Dinamarca, identificou 633 casos de pacientes com carcinoma de células escamosas (CEC) do lábio e comparou com 63.067 controles populacionais. O uso de hidroclorotiazida foi obtido em registros de atendimentos. Neste estudo o uso contÃnuo de hidroclorotiazida foi associado a um risco ajustado de 2,1 para câncer de lábio, aumentando para 3,9 para uso de hidroclorotiazida em doses ≥25 mg. Houve um efeito dose-resposta com a dose mais alta de hidroclorotiazida (≥100mg) apresentando um risco de 7,7. Nenhuma associação com câncer de lábio foi observada com o uso de outros diuréticos ou anti-hipertensivos não-diuréticos. Neste estudo os autores estimaram que 11% dos casos de câncer de lábio de CEC podem ser atribuÃdos ao uso de hidroclorotiazida.
O mesmo grupo dinamarquês estudou o efeito da hidroclorotiazida em todos os tipos de câncer de pele não melanoma e novamente encontrou um aumento progressivo na incidência de câncer de pele, em especial o CEC, com efeito dose-resposta, em especial para doses maiores que 200 mg/dia (7,38 vezes). (J Am Acad Dermatol 2018;78:673-81.)
A Sociedade Brasileira de Dermatologia expediu uma nota técnica informando que os estudos são retrospectivos e em populações de pele clara originários na Escandinávia, que são especialmente sensÃveis à exposição à radiação ultravioleta. Devido à alta exposição da população brasileira à radiação UV é necessária atenção de médicos e pacientes enquanto este assunto recebe investigação adequada pela comunidade cientÃfica. A SBD ressaltou também a importância de os usuários do medicamento fazerem a proteção solar adequada.
Recomendação da SOCERJ:
Como os dados são ainda iniciais não é recomendada a interrupção ou redução do uso da hidroclorotiazida sem uma avaliação pelo seu médico. Uma avaliação cardiológica, o uso de protetores solares quando necessário e a avaliação pelo dermatologista são condutas que devem ser tomadas por indivÃduos que fazem uso de hidroclorotiazida neste momento.Â
Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj)
Diretoria 2018/2019
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